Gestão

As empresas que devem surgir após a crise: ágeis e anti frágeis

Que pessoas e organizações serão capazes de ver o futuro com otimismo? Acho que aquelas que reúnem duas qualidades: agilidade e antifragilidade. 

24-08-2020

As empresas que devem surgir após a crise: ágeis e anti frágeis

As respostas já não são úteis porque as perguntas mudaram. E receio que isso aconteça cada vez com mais frequência. 

Acha que depois desta crise não haverá outras (saúde, económica ou ambiental)?  Que pessoas e organizações serão capazes de ver o futuro com otimismo? Acho que aquelas que reúnem duas qualidades: agilidade e anti fragilidade. 

Numa situação de total incerteza, a única coisa que podemos fazer como organização é tornarmo-nos mais rápidos e ágeis para que possamos reagir o mais rápido possível, seja adaptando ou antecipando um ambiente em constante mudança.

Agilidade

Vamos imaginar que navegamos em um veleiro. De repente, o vento desaparece e ficamos completamente calmos. Mas sabemos que uma tempestade gigantesca está chegando. O que podemos fazer neste período de calma total?

Haverá tripulações que se dedicarão ao banho de sol até que o vento venha. Outros aproveitarão para organizar um motim a bordo. Mas alguns podem colocar toda a sua energia na preparação do navio para quando os ventos chegarem.

Vamos falar sobre o último. O que essa equipe irá procurar? Três objetivos principais:

1. Aliviar a carga

Tudo o que incomodava no passado (burocracia, procedimentos, reuniões intermináveis, lentidão, egos, etc.) tem que ser lançados ao mar. Quando um sistema sofre atrito a uma determinada pressão ou velocidade, existe o perigo de que, quando aumentam,  se acabe partindo.

Temos dedicado tempo para propor uma mudança na cultura, mentalidade, atitude e formas de trabalho das nossas equipes? 

Não? Bem, quando vier outra crise, sofreremos ainda mais.

2. Treine

A tripulação deve preparar-se para ser rápida  face à tempestade que se aproxima. E não sabemos quando, nem onde, nem qual a intensidade, mas teremos que estar preparados com certos conhecimentos para enfrentar esse desafio. Isso traduz-se em aprender novas ferramentas tecnológicas e metodologias de trabalho colaborativo. Ou achamos que neste mundo podemos continuar a trabalhar como antes?

3. Seja ágil  É a qualidade de ser adaptável, flexível e capaz de responder e mudar no menor tempo possível. Um exemplo é a comparação entre um navio de cruzeiro e um veleiro. Um cruzeiro (ótima organização) pode ser muito rápido, mas nunca será ágil. Em vez disso, sim o veleiro será ágil (equipes autogeridas em perfeita coordenação com todos).  Aprendemos alguma coisa no nível organizacional? Vamos virar a nossa organização de alta baixo, seja ativando a evolução e a transformação contínua, ou, pelo contrário, estamos a esperar para retornar às deficiências sistemáticas de antes da Covid-19?  Estou a ver organizações que, graças à liderança de certas pessoas, começaram a trabalhar. Criaram equipes multidisciplinares de diferentes categorias (não olhando mais para o cargo, mas para o papel que cada pessoa deve desempenhar) voltadas para a criação de uma organização melhor para quando a maquinaria voltar a funcionar. 

Porém, observo como os outros estão a esperar que a tempestade passe, para voltar à rotina e aos defeitos de antes. Nada mudou em seu DNA. E perderam uma grande oportunidade.

Vamos responder a algumas perguntas:

— O que vamos fazer para melhorar a nossa organização após o retorno? 

— Apenas mudar de hardware ou tentar introduzir um novo software?

— Com o teletrabalho, descobrimos uma forma mais eficiente de trabalhar ou, pelo contrário, são os mesmos defeitos e maus hábitos que vínhamos a cometer repetidamente: longas reuniões, patrões ligando a toda hora, trabalhar mais tempo, falta de organização, falta de objetivos e métricas para ter mais autonomia, etc.?

— Quando as pessoas voltarem, sentirão medo ou, ao contrário, ilusão e desejo de transformar a organização num lugar mais eficaz, eficiente e humano?

— Sabemos ativar a Inteligência Coletiva para encontrar soluções para os novos desafios que teremos? Todos estão a pensar e a colaborar ou apenas a "elite" da organização?

— Saberemos despertar a liderança de cada pessoa para enfrentar esses novos desafios?

— Aprendemos a promover a melhoria contínua como forma e cultura de trabalho?

Se incorporarmos agilidade no nosso DNA, e não estou a dizer apenas aplicar metodologias ágeis (Scrum, Kanban, Xp, DevOps, etc.), mas sim "ser, pensar, agir e inovar" de forma "ágil", seremos capazes de enfrentar qualquer tempestade com uma capacidade de manobra que nos permitirá enfrentar este novo desafio com maior garantia.

Antifragilidade

Diante de uma pessoa ou organização frágil (que colapsa ao ser atingida), existe a qualidade da “anti fragilidade”, termo criado por Nassim Taleb, que consiste não em se recuperar do golpe, mas em melhorar com o golpe.

Uma organização anti frágil é aquela que, face a qualquer circunstância negativa, mais do que perdurar ou recuperar (que seria “resiliente”), a faz melhorar, aproveitar e ir mais longe graças ao duro golpe que recebeu. É aquele que prospera em ambientes difíceis, adaptando-se e até mesmo  antecipando-se às mudanças do mundo em que vive.

E é aqui que os dois conceitos se juntam. A agilidade (como forma de pensar e trabalhar) permitirá que as organizações sejam anti frágeis, ou seja, rapidamente adaptáveis, e até prosperem em ambientes difíceis, pois souberam ativar as pessoas para a sua evolução contínua, criando uma organização que sabe rapidamente aproveitar, melhorar e até antecipar, graças ao desafio que teve de enfrentar.

Esta crise é uma oportunidade gigantesca de transformar a nossa organização. Não se trata mais de encontrar um modelo definido para se conformar com ele, porque a realidade muda constantemente.

O desafio é criar uma organização ágil e anti frágil que saiba evoluir,  adaptar-se e até antecipar rapidamente um mundo em constante mudança.

As suas empresas são frágeis, lentas e pouco adaptáveis? Ou  são rápidas, ágeis e antifrágeis para prosperar em ambientes hostis?

É hora de começar, porque com cada vez há menos tempo, os cenários, as perguntas e as nossas respostas vão mudar.

Autor: Juan Ferrer Consultor em transformação de organizações e Palestrante internacional especializado em Gestão de Mudanças, Inteligência e Liderança Coletiva  www.juanferrer.es

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